quinta-feira, 19 de maio de 2011

Os X-Wife continuam infecciosos

O gosto por canções dançáveis mantém-se, mas ao quarto álbum os X-Wife inspiraram-se mais em sonoridades disco do que no pós-punk dos primeiros dias. Falámos com a banda portuense sobre esta viragem e fomos espreitar o concerto de apresentação de "Infectious Affectional" em Lisboa, no Lux.
Com "Rockin' Rio", EP de estreia que editaram em 2003, os X-Wife apanharam o comboio da revisitação do pós-punk que marcou tantas outras bandas na alvorada do milénio. E se entretanto muitos desses grupos ficaram pelo caminho, o trio de João Vieira (voz/guitarra), Fernando Sousa (baixo) e Rui Maia (teclados/sintetizadores) chegou a 2011 com aquele que é já o seu quarto álbum.
Além de ser mais um passo num percurso já considerável, "Infectious Affectional" funciona também como um relativo ponto de viragem para um grupo que, nos dois discos mais recentes, não se tinha distanciado muito das pistas lançadas no primeiro - o auspicioso e frenético "Feeding the Machine", de 2004.


João Vieira, mais conhecido como DJ Kitten, conta que este é um álbum "mais pensado" e revelador de outra preocupação com as letras, as melodias ou a voz. E não só, porque este alinhamento nasceu também de uma forte influência disco - embora seja "um disco diferente, não aquele mais comercial mas o mais alternativo e obscuro que se ouvia em Nova Iorque no final dos anos 70", sublinha o vocalista.
Este "leftfield disco", que João Vieira descobriu através de bandas como os Liquid Liquid, Ian Dury and the Blockheads, Material ou Talking Heads, ajuda a tornar "Infectious Affectional" no álbum dos X-Wife mais coeso desde a estreia e, sobretudo, no seu registo mais diversificado.
Se o primeiro single, "Keep on Dancing", mostrava um grupo igual a si próprio, o tema de abertura do álbum, "I Live Abroad", dá logo sinais mais claros da mudança que João Vieira salienta - tanto na voz, sem o tom agudo dos discos anteriores, como na componente rítmica, que não esconde a proximidade aos contemporâneos LCD Soundsystem. "Across The Water", de compasso mais lento e contemplativo, ou a carga funky de "Little Love" são outros exemplos deste rumo que tem em "White Shoes" o momento mais conseguido, de acordo com o vocalista. O derradeiro tema do álbum está mais próximo daquilo que João Vieira gostaria de fazer, "música mais livre, sem ter grande preocupação com onde é que entra o refrão ou se tem três minutos e meio". E assim, ao quarto álbum, os X-Wife assinalam um regresso com uma infecciosa sugestão de recomeço.

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